quinta-feira, 17 de junho de 2010

ALGUM DIA HAVIA DE ACONTECER...

Desde que me lembro, o Belenenses sempre apostou em fazer dinheiro, e nunca apostou em ter (muitos) adeptos.

Sempre, pelo menos desde há cerca de 40 anos.

Campanhas de sócios, não há sei lá desde quando. Mas, pior, não existe, desde há muitas décadas, campanhas de adeptos. A verdade é que há adeptos que não são sócios e sócios que não são adeptos.

À parte apostas falhadíssimas - em alguns casos ridículas -, nos últimos 25 anos tentou-se o bingo e as piscinas. Agora, está no ar a questão da rentabilização dos espaços no Restelo.

O bingo foi um grande sucesso (apesar de tanta coisa...). Até porque saca dinheiro a lagartos e lampiões.

Já as piscinas tiveram um efeito perverso: empestaram o Belenenses de lampiões e lagartos. A propósito, acabe-se com a Natação competitiva, já! Pelo menos a competitiva, se é que não se devem mesmo fechar e reconverter (o espaço de) as piscinas. Nunca me entusiasmaram, porque era previsível que trouxessem sócios (agora já bem poucos) mas não adeptos. Deveriam ser sempre vistas como coisa acessória. Os sócios vão-se, só os adeptos militantes ficam.

Já perguntei a pessoas que fizeram Natação no Belenenses se houve algumas acções ou iniciativas ou esforços - alguma coisa que fosse - para as induzir a ser adeptas do Belenenses. A resposta foi sempre a mesma: não, nada. Significativo!...

Por isso (e pela nossa distinta maneira de estar até há alguns anos) temos muito, mas muito mais, simpatizantes do que sócios e adeptos.

Nunca ninguém colocou a sério a pergunta: porque temos tão pouca gente no estádio? A resposta, mesmo desmentida pelos factos, é sempre a frase feita: porque temos maus resultados, porque "não ganhamos nada". O facto é que clubes com piores resultados e menos adeptos, têm mais gente nos estádios. Aqui, ainda se poderá retorquir: ah, é que no nosso código genético está sermos vencedores, e como não somos... Será? Para efeitos de imagem, e de defesa, dou mérito a essa resposta. Mas infelizmente é falsa. Se dividirmos a história do Belenenses ao meio, na 2ª metade, essa matriz desapareceu, não apenas factual mas potencialmente. No nosso código genético ficou o faduncho do anãozinho coitadinho.

Na verdade, os belenenses têm pouca cultura e mentalidade de adeptos. Por isso, parecem menos do que são. Muitos tornaram-se adeptos contabilistas. Só aí tentam vencer. O seu acto supremo de belenensismo é pagar as quotas e por vezes lugar cativo, embora o deixem por ocupar épocas a fio; ou, noutros casos, o acto supremo de belenensismo, omitido o anterior, é discutir as contas.

E algum dia haveria de acontecer: de tanto falar no dinheiro, ou na sua falta, aconteceu-nos o que sucede aos que olham demasiado para os muros a conduzir. Agora, realmente, não temos dinheiro.

Mas, não só não temos dinheiro, como as pessoas estão-se a borrifar para o Belenenses. Secou-se, quando não mesmo se abortou, os seus sentimentos, o seu instinto e a sua paixão de adepto. Não há nada nem ninguém a quem apelar. Como a todos os avarentos e forretas, secos, frios, que empobrecem e adoecem, não há ninguém para os cuidar e acompanhar.
Para quem tem dinheiro, as pessoas podem ser números. Mas, precisamente por isto, só se interessam quando essas pessoas são ou se traduzem em grandes números. Quem vai apostar num clube (eu sei que "devia" dizer "marca" - mas que adianta ou altera?) que voltou costas aos adeptos e a quem os adeptos voltaram costas?

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